March 15, 2013, 10:43 a.m.
Trinta: capitulo 1
E - Words: 4,205 - Last Updated: Mar 15, 2013 Story: Closed - Chapters: 1/? - Created: Mar 15, 2013 - Updated: Mar 15, 2013 51 0 0 0 0
Quanto tempo dura o para sempre?
Quanto tempo dura o nunca?
Quanto tempo somos capazes de viver o paraíso?
Quando se é adolescente vivemos o hoje e temos a certeza que aquilo é o eterno. Eterno, é efêmero e distante. Quando nos falam que nada é eterno, sempre achamos que eles estão errados, que nós os mostraremos o que é eterno, que vamos alcançar nossos sonhos e que nunca vamos nos despedir dos que amamos. Sempre vamos estar lado a lado com todos nossos amigos, talvez estejamos realmente em coração e nas lembranças dos bons e maus momentos que vivemos juntos.
Certa vez jurei que nunca ia me despedir de uma pessoa, não despedi dele naquele momento.
Gritos, choro, acusações, a porta batendo e restando apenas o vazio, caos e lágrimas, foi a nossa despedida. Ele voltou depois em um momento que eu não estava em casa, quando cheguei em casa eu tinha certeza que ele estava lá, seu perfume exalava pela casa, o banheiro úmido mostrava que alguém estivera lá, o seu perfume amadeirado almiscarado era marcante, meu coração naquele momento falhou uma batida, ele havia voltado atrás. Ele havia voltado para casa, tudo que ele falou foi em um momento de ira, em uma de nossas discussões épicas por causa de ciúme. Deixei o sorriso bobo invadir meu rosto e caminhei para o quarto a esperança de encontrá-lo dormindo em nossa cama me dominou. Entrei no quarto e liguei a luz, para encontrar a nossa cama vazia e um caos de mudança deixada para trás em nosso quarto, as portas do armário que era destinado a ele estavam abertas e ele se encontrava completamente vazio, a não ser por objetos que foram considerados sem importância que permaneceram esquecidos e jogados como eu me sentia naquele momento.
Naquele momento eu chorei, não como era acostumado, mas o buraco em meu peito era maior do que eu jamais imaginei que pudesse se formar. Eu tive a certeza naquele momento que eu havia falado adeus pra pessoa que eu havia jurado que nunca falaria. Não ele foi embora sem falar adeus. O amor da minha vida havia me deixado.
Aquela maldita música estava tocando na rádio naquele momento, mas por qualquer razão que desconheço eu não conseguia mudar a estação ou simplesmente desligar o maldito rádio.
Somewhere only we know, ele havia cantado para mim quando resolvi me transferir de volta para o Mcleyney, naquele dia eu prometi que nunca me despediria dele abraçado em um abraço apertado em meu namorado, mas isso havia sido há quanto tempo? 14 ou 15 anos talvez, para mim era uma lembrança, quase um borrão. Mas o vazio deixado por ele há exatamente 12 anos não era. Ele preferiu seguir seu sonho, a continuar vivendo comigo em nosso pequeno apartamento em Nova York.
Sacudi a cabeça espantando todas as más lembranças, não havia forma mais perfeita de começar o dia do que o trânsito caótico de Nova York, a cidade que escolhi viver com todo seu requinte e glamour. Chequei o relógio do carro eram 07:45, eu tinha quinze minutos para chegar ao escritório central da Hummel. Tudo teria de estar perfeito para a semana de moda de Nova York, pela primeira vez o meu desfile era o mais aguardado, foi uma longa caminhada para chegar ao topo, mas eu consegui.
Toda a crítica especializada profetizava que era questão de tempo para que a Hummel deixasse para trás Versace, Dior e Prada, que eu era o Príncipe da moda. Logo eu, menino de cidade pequena que veio para Nova York sonhando ser um grande ator da Broodoway. Acabei me tornando um estilista renomado, a marca que mais cresceu e surpreendeu nos últimos dez anos, carregava meu sobrenome, Hummel.
Acabei me inscrevendo para a faculdade de moda graças a um conselho de Blaine. Eu ia ganhar mais um pouco em meu emprego se estivesse estudando moda, ele estava se mudando para Nova York para estudar teatro e morar comigo, eu teria mais despesas e empurrar as despesas do meu namorado nas costas do meu pai não era legal, não éramos ricos para que eu pudesse me dar esse luxo. Foi o primeiro sonho que desisti NYADA, desse tempo ficaram apenas as lembranças. Desisti por ele, desisti de ser uma diva por amor, o mesmo que bateu a porta em meu rosto a 12 anos.
Eu nunca me arrependi de abandonar meu sonho, construí outros que consegui conquistar ao longo dos anos, eu ainda era jovem, mesmo que no fundo me sentisse um velho ranzinza, 33 anos. Minha vida era Hummel e meu pai e sua nova família. O trabalho me sugava todas as forças, minha vida era o trabalho, e o trabalho era a minha vida. Desde o dia que aquela porta de carvalho bateu e eu fiquei sozinho no apartamento pequeno que se mostrou de repente tão grande, eu nunca consegui me envolver profundamente, sexo, era coisa de um passado, sentia menos falta disso na minha vida que um celibatário. Nunca entendi como uma pessoa conseguia fazer isso, sem amor somente para obter prazer, que tipo de cultura era essa que banalizava algo sublime como a mais profunda jura de amor?
Estacionei meu carro na vaga destinada a mim. Mandei o boy pegar tudo que iria precisar naquele dia e segui para o elevador, minha entrada no escritório da Hummel sempre gerava buchicho de meus subalternos, era quase como o Diabo veste Padra. Mas em aqui o Diabo vestia Hummel, ele era o próprio Kurt Hummel. Sorri triunfante ao ter esse pensamento, onde estariam hoje os idiotas que me jogavam raspadinha durante o ensino médio?
De alguns amigos eu tinha notícias ou ouvia falar, de outros nunca mais tive
notícias, Mercedes Jones era uma diva, assim como Adele foi um dia, agora era a minha ex amiga de clube Glee que liderava a parada romântica. Rachel Berry era atriz na Broodway, descobriu da pior forma que os anos dourados do teatro já haviam se esvaído. Trabalhava muito o retorno financeiro era pouco e para grande massa ela era uma desconhecida. Finn, meu irmão, trabalhava como corretor na bolsa de valores e se desdobravam pra cuidar do neném que acabara de chegar, eu tinha um sobrinho que fazia questão de mimar. Esses eram os únicos que eu mantinha contato no final das contas. Blaine, Blaine Anderson era o ator mais bem pago de Hollywood.
– Bom dia Mr. Hummel! - desejou a minha primeira assistente com um sorriso falso no rosto.
– Só se for pra você! - respondi seco, analisando a roupa daquela criatura desmilinguida e loira - Já buscou as peças piloto dos vestidos de luxo da próxima estação? - quanta incompetência em um único ser, ainda tem a coragem de negar com a cabeça. - Vai buscar! Quero para ontem!.
Sentei em minha mesa analisando os croquis dos estilistas assistentes, salvar alguma coisa ali seria difícil. "O homem hoje está azedo! Vai ser um dia daqueles"ouvi ela murmurar para outra assistente antes de sair as pressas. Azedo? Vocês não viram nada ainda, ou acham que cheguei aonde cheguei sendo bonzinho, e mimando quem trabalha comigo?
Virei minha cadeira por um instante analisando como aquela cidade depois de tanto tempo ainda me fascinava, tão diferente de Lima em Ohio, onde nasci e cresci. Não sou Hipócrita ao ponto de mentir que não sinto saudade, às vezes tenho vontade de voltar atrás e fazer algumas coisas diferentes. Talvez não, a minha opinião não mudou, eu não iria desisti de tudo e ir para Los Angeles com Blaine, eu não podia, se tivesse feito aquilo seria apenas um fracassado vivendo a sombra dele. Se não brilhasse como brilho eu não seria Kurt Hummel. Não, eu não estaria a sombra dele, ele foi covarde o suficiente para se trancar no armário em troco da fama.
Eu pelo contrário continuo erguendo a bandeira gay, podem me chamar de bicha, afetado, ou como era mesmo que Sue Silvestre me chamava? ... Porcelana. Qualquer coisa a menos que sou eu não seria eu. O celular tocou dentro da minha bolsa, era o toque da minha linha pessoal aquela que eu sempre estava disponível para atender em pessoa, não importa o quanto atarefado eu estivesse, eu atendia, afinal apenas as pessoas íntimas possuíam o número. Me surpreendi ao ver um número desconhecido no visor.
– Alô! - falei desconfiado
–Kurt! é você?– aquela voz! Não podia ser ela? Podia? - É a Mercedes!
–Mercedes? AH MEU DEUS MERCEDES! Quanto? Quanto tempo? Eu vi você na televisão, e na revista eu ouvi sua música no rádio! Você estava maravilhosa!
–Kurt que saudade! Nossa muito tempo mesmo!
– Eu estava lembrando de você essa manhã, Como você conseguiu meu número? - Perguntei alarmado
–Eu estou em Nova York, tentei falar com você, claro que não falei que eu era eu, mas ai na Hummel não me deixaram falar com você, então minha assistente foi até um dos teatros em que a Rachel se apresenta e conseguiu o número dela, acabei de falar com ela, e ela me informou que na Hummel eu nunca ia conseguir falar com você e me passou esse número.
– Uau! Mas por que você não se identificou me passariam o telefone na hora? - falei imaginando onde ela estaria, uma vontade louca de chamá-la para tomar café pra que pudéssemos colocar o papo em dia.
–eu não queria falar com o estilista, queria falar com o meu amigo de ensino médio, sendo a Mercedes de Lima não a estrela. - Mercedes riu no telefone -E ai como está tudo?
– Vamos nos encontrar! - decretei olhando para a porta e vendo a inútil da minha assistente carregando as peças piloto de uma forma que não deveria estar sendo feito, ou arruinaria meu trabalho. Sinalizei para que ela saísse e fechasse a porta eu queria nesse momento privacidade. - Podemos tomar um café...
–Exatamente Kurt! Quero te convidar pro meu aniversário, comemorarei depois de amanhã em um hotel aqui em Nova York depois da minha apresentação, conto com a sua presença em ambos.– ela decretou.
– Mercedes, uma festa, compreendo, mas queria te ver só nós dois! Podemos sair pra jantar o que você acha? - falei com a minha melhor voz de cachorro pidão.
–Tudo bem Kurt, mas quero seu Cokkie de presente de aniversário viu!
– Tudo que a estrela maior quiser!
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Nova York sempre que pisava naquela cidade sentia um terrível mal estar, Anita não poderia ter escolhido pior data para que eu viajasse exatamente 12 anos do meu rompimento com Kurt. Dizem que o tempo cura tudo, mentira! Existem dores que pioram ao longo do tempo, a saudade era uma dessas, eu odiava aquela cidade, mas tinha de fazer o marketing de meu mais novo filme.
Sim depois de todas as raspadinhas na cara, eu cheguei ao topo, mas não sem um preço. Todos pagamos um preço de nossas escolhas, a fama tem um preço alto, Hollywood não estava preparada para ter um galã gay, eu me preparei toda a minha vida para isso, eu não precisava ser um galã apenas um ator, mas Kurt não quis abrir mão da sua metódica vida e se mudar pra Los Angeles comigo, "o lugar era muito ruim a faculdade não prestava", foi o argumento que Kurt usou para continuar seguindo os sonhos de Rachel, e no final ele decretou com seu ciúme que todos estariam olhando para mim.
Brigas e mais brigas, todas as vezes que chegava de um teste o mundo parecia ruir em mais uma crise de ciúmes de meu ex. Há exatamente 12 anos nós terminamos. Eu fui embora sem me despedir, se eu o fizesse não teria forças para sair daquele apartamento carregando minhas coisas para atravessar o país sem ele em busca de um sonho.
Ele havia me prometido que nunca nos despediríamos, mas cada um tomou seu rumo sem que fosse possível dizer adeus. Fui em nossa casa quando eu sabia que ele estava trabalhando e chorei, cada peça que colocava nas malas era uma lágrima que escorria pela minha face, junto as minhas coisas
peguei o porta retrato com a foto de quando Kurt fora coroado a rainha do baile e o cachecol que ele usara no dia anterior que tinha tanto de seu perfume delicado e másculo ao mesmo tempo e guardei junto com as minhas coisas. Resolvi tomar o último banho no santuário que eu considerava meu paraíso particular, nossa casa, pra mim nada importava naquele momento, eu tinha sido feliz morando com Kurt nos últimos dois anos. Lavei as lágrimas, eu não podia me dar o luxo de chorar, apenas meu travesseiro iria testemunhar a minha fraqueza.
Eu cumpri minha promessa, meu sorriso era considerado o mais lindo. Me tranquei no armário, fiz as pazes com meu pai. Mas era como se estivesse vivendo uma mentira. Meu coração batia descompassado toda as vezes que ouvia o nome Hummel, mas parecia que ele queria me atormentar se tornando um estilista renomado, diziam que ele já havia acumulado uma pequena fortuna. Mas desde quando dinheiro trazia felicidade. Talvez quando ainda era adolescente e conseguia juntar dinheiro pra fazer um pequeno mimo pro Kurt e via os olhos dele brilhando. Não, não era o dinheiro que me trazia felicidade, era a felicidade do grande amor da minha vida.
Me envolvi com várias mulheres na esperança de gostar da fruta, mas era impossível desde a vez que Rachel Berry me beijou no Lima Beans eu tenho a certeza que sou 100% gay. Às vezes consigo ir a algum clube gay muito escondido e discreto onde pago pra estar com algum homem, mas nunca tive prazer como era com Kurt, com ele eu não só satisfazia o meu corpo, mas também minha alma, eu o amava.
– Blaine! Nosso carro. Vamos?!
Anita me empurrou em direção a um carro preto que eu tinha certeza que não ia consegui reconhecer minha mente vagava a kilometros ou anos dali. Eu queria voltar no tempo e não ter saído de casa como saí. Eu gosto do carinho dos fãns, gosto de gravar, interpretar novos personagens, mas sinto falta das crises do Kurt, seu sorriso, sua voz, seu cheiro, seu gemido contido e apaixonado quando eu entrava nele nos conectando quando fazíamos amor. Como éramos cúmplices quando cantávamos juntos.
Como a vida passa e nem percebemos, quantos amigos me restavam do tempo de adolescente? Nenhum. As vezes me encontro com Mercedes, mas por que ela é uma estrela da música. Kurt eu o vejo na televisão e ouço falar da Hummel. Quando falei para Kurt que ele tinha mais futuro como estilista do que como ator e cantor ele riu e não acreditou. Mas eu sabia que ele nunca ia convencer como machão ou garanhão, ele sempre foi muito delicado para isso. Mas como falar isso sem chateá-lo?
Eu tentei no início a convencer meus agentes a fazerem um teste com ele, a resposta foi. "Ele não convence, e mesmo se conseguir ele sempre vai ter o papel estereotipado de gay." Naquele momento eu havia feito a minha escolha, eu tinha escolhido ficar com ele em Nova York sendo um ator medíocre, mas ele me acusou que as rosas que estava levando para ele, era uma forma de encobrir a minha traição. O ciúme doentio de Kurt nos separou. Eu nunca entendi como eu conseguia ser um imã, tanto pra homens e para mulheres, no fundo o ciúme não era infundado, mas eu nunca cogitei de trair Kurt.
Às vezes eu me pergunto o que ele deve ter pensado quando noticiou que eu seria pai, talvez seja um pouco de presunção minha em pensar que ele iria acompanhar site de fofoca pra saber o que estava acontecendo na minha vida. Mercedes já me encontrei com ela algumas vezes, ela também é famosa, somos os únicos do clube Glee que conseguimos experimentar o estrelado, e devo dizer que pra um único colégio de interior o número de alunos que se destacaram é grande, 3.
Suspirei dentro do carro que passava por ruas tão conhecidas por mim, mas a tanto deixadas para trás. Anita falava sem parar ao telefone, acho que era com a babá de Mary Rose que deve ter trocado alguma coisa como sempre fazia. Fechei os olhos refazendo o caminho que eu faria para casa daquele ponto, eu ainda conseguia chegar sem nenhuma dificuldade ao local que eu mais fui feliz em toda a minha vida.
– Blaine a agente de Mercedes Jones acaba de entrar em contato conosco! - Anita falou apertando minha mão.
– E como ela está? - Não era segredo para a imprensa que eu e Mercedes havíamos estudado juntos.
– Ela dará uma festa de aniversário daqui a dois dias aqui em Nova York, confirmei nossa presença, acho que você vai gostar dar um abraço na sua amiga.
– Ela era amiga do Kurt não minha! - Falei suspirando - Tudo bem Anita, é sempre bom rever Mercedes. Já ligou para a Babá de Mary Rose? - falei na tentativa de mudar de assunto.
– Vou ligar agora!
Essa era a deixa que eu queria para voltar a minha reflexão, Kurt era famoso, será que Mercedes o convidaria? Eu definitivamente não estou preparado pra ver aqueles olhos azuis, que conseguia fazer meu coração parar de bater quando recaíam sobre mim. Mas eu conheço Kurt ele deve ter ódio de mim. Todos os anos eu ficava melancólico nessa data. Me lembrei de Burt falando pra deixar o Kurt chorar e ficar quieto o aniversário de morte da mãe dele. Era isso aquele dia completava dez anos que meu amor havia morrido.
Me lembrei do momento que tive certeza que eu estava terrivelmente apaixonado pelo meu melhor amigo, Kurt adentrou o ensaio dos Warbles em luto pela morte de Pavarotti, não o cantor, o rouxinol, e cantar Blackbird. Eu tive a certeza que aquele era o homem da minha vida.
Todas as boas lembranças que vivi ao lado do meu ex-namorado insistiam em bailar na minha mente, como se quisessem me punir pelo dia que saí batendo a porta de nosso apartamento, "ACABOU!" Foi o veredicto que dei pouco antes de ver Kurt arrancar a nossa aliança de seu dedo e jogar na minha cara, foi a última vez que o vi, ele havia gritado e chorado, eu não estava diferente. Saí de casa sem rumo e sem nada, procurei abrigo com Anita que estava em Nova York hospedada no mesmo hotel para o qual estávamos indo.
Eu odiava aquele hotel, era frio e impessoal. Eu conseguia ver o pequeno apartamento que eu e Kurt alugamos quando vim para Nova York, ele tinha uma pequena sala conjugada com a copa, havia sempre flores frescas que exalavam um perfume adocicado e acolhedor, ele sempre fez questão de ter flores em casa cuidadosamente colocadas no jarro branco que ficava na mesinha entre os dois pequenos sofás.
Entrei no hotel sendo empurrado entre os seguranças e seguido de perto por Anita, meu corpo parecia um boneco inanimado, sendo moldado ao bel prazer, parecia que a muito minha alma já não mais habitava meu corpo. Olhei pela janela observando como o Central Park parecia que possuía um grande tapete vermelho proveniente das folhas que caíam cada vez mais a medida que o outono avançava.
Eu estava sufocado naquele imenso quarto, abri a janela deixando o vento frio do outono acariciar meu rosto, Anita insistia em falar coisas que eu não ouvia, agenda e coisas que para mim não tinham a menor importância. Eu precisava voltar lá, nem que fosse para olhar o prédio no qual morei com Kurt. Abri minha mala peguei um gorro e óculos escuros e saí daquele lugar que estava me fazendo mal.
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O dia foi cansativo, mas gratificante faltava uma semana para o meu tão aguardado desfile da coleção de Primavera-Verão, aquela era a minha hora de brilhar. O mundo da moda exigia muito dos corajosos que se atreviam a tentar um lugar ao sol, eu ainda não havia lançado a coleção que estaria disponível nas lojas apenas em fevereiro, mas já trabalhava a todo vapor na coleção do próximo inverno.
Dirigi pelas ruas de Nova York de volta para minha casa, para um aconchegante chá verde e uma sessão de a noviça rebelde. Eu aprendi ao longo dos anos a apreciar a solitude, não a solidão na qual me sentia naquele momento. A recepção que eu tinha dia após dia era o vazio do meu apartamento em Mahanthan. Mas para onde eu estava indo, a minha casa ficava para o lado oposto para o qual eu estava dirigindo naquele momento.
Aconchego. Lar. Essa era mais uma peça do meu subconsciente. Eu nunca fui uma pessoa violenta, mas nesses momentos eu tinha vontade de pegar Freaud e o socar até todo o sangue do corpo se esvair pelo nariz. Eu estava indo não para minha casa, mas para o meu lar. Que belo momento de querer voltar e rever aquele prédio velho.
Todas as vezes que me sentia tão melancólico fazia coisas que definitivamente eu tentava não fazer nos meus momentos de clareza. Comprar flores para colocar no jarro que eu costumava ter em minha sala, que hoje enfeitava a casa de Rachel e Finn. Ouvir as músicas que ele cantava, ou já cantou comigo. Ir aos lugares que freqüentávamos juntos, ou voltar e procurar a janela de nosso apartamento.
Merda Kurt! Isso só pode ser masoquismo, querer rever um sonho doce que se tornou mais amargo que fel. Já era hora de você ter seguido em frente e arrumado um gay sarado, um desses mesmo que deram em cima de você. Mas não você prefere ficar em casa alugando os filmes do seu ex via paper view e ficar chorando enquanto o vê em alguma cena romântica. Ou como se não fossem o suficiente procurando notícias meias verdades sobre ele em sites de fofocas.
Sorri ao me lembrar da foto que havia salvado nos confins do meu computador particular, era uma foto dele com a filhinha, a menina parecia um anjo, o tipo de garotinha que eu queria carregar para todos os lados e apresentá-la como a princesinha do papai. Mary Rose, era o nome que daríamos a nossa filha se algum dia chegássemos a ter uma. Blaine colocou o nome que eu havia sugerido em uma dessas conversas que casais têm depois de fazerem amor, onde são beijos entre palavras e papos entre beijos. A garotinha tinha tudo para ser perfeita se não fosse por um único detalhe. Ela era filha da Bruxa de Blair, Anita Malfoy, a mulher que fez a cabeça de Blaine para que ele me deixasse.
Estacionei meu carro em frente ao prédio que morei tudo parecia tão igual. Fechei os olhos, não era difícil visualizar Blaine chegando em casa, depois do trabalho de meio expediente que ele tinha para me ajudar com as despesas, mas a verdade que ele ganhava tão pouco que ele só conseguia inteirar a mesada que a Sr. Anderson enviava para ele, já que o Senhor Anderson se negava a enviar qualquer quantia para o filho, ele não aceitava o fato que Blaine viera morar comigo. Eu pagava o aluguel e as contas da casa com o que ganhava na revista. A ajuda que meu pai me enviava dava pra tentar passar o mês.
Morávamos em uma periferia, mas era aconchegante a rua e depois dos truques de decoração o apartamento ficou tão habitável. Era um verdadeiro lar, às vezes recebia a visita de alguma vizinha querendo ver o que eu havia feito no apartamento, para elas me copiarem.
Ouvi dizer que Blaine e o pai haviam feito às pazes, isso era bom. Eu sei quantas vezes Blaine reclamou por não ser próximo do pai ao longo dos anos. Abri meus olhos, ou pensei ter aberto.
Do outro lado da rua eu vi Blaine caminhando para casa, mesmo com aquela touca brega e aqueles óculos escuros tão masculinos era ele. Não, era um sonho só poderia ser. A roupa dele não expressava quem ele verdadeiramente era. Essa é a primeira lição da moda, as roupas devem expressar quem somos.
Fechei meus olhos e tornei abrir várias vezes, não fazia sentido o que Blaine estaria fazendo ali? Ou será que era aqui?
Baixei o vidro do carro lentamente, e retirei os óculos escuros. Ele estava tentando passar despercebido, mas eu tinha certeza que era ele, a forma de andar, o jeito de olhar, sim mesmo naquela distância e com seus olhos avelã cobertos por aqueles óculos eu tinha certeza de seu olhar. Mas faltava algo ali, o brilho e a confiança que costumava exalar em seus poros.
Ele parou e olhou para o prédio, levando à mão a bochecha limpando algo que pareciam ser lágrimas. Por que eu não conseguia me mover? A minha visão embaçou foi quando percebi que lágrimas rolavam pelo meu rosto.
"Eu nunca vou me despedir de você, Blaine"
Eu estava com medo, como se eu ainda tivesse 16 anos e Karovisky me ameaçou de morte. "Coragem"foi o que ele havia me aconselhado na época. Eu não iria ficar parado me escondendo. Eu precisava ver o homem que ele havia se tornado. Destranquei a porta e a sai do carro atravessando a rua.
Cada passo que eu dava era como lutar com toda a lei da gravidade que me prendia ao solo.
– Kurt... – o ouvi murmurar meu nome, com tanta dor, ele me odiava. Será que era medo que eu revelasse ao mundo do que ele realmente gostava?
– Blaine! – respondi vendo-o se virar surpreso.