Kurt percebeu que Blaine estava deixando de sair para ficar ao seu lado, tendo mais uma vez, deixado de trazer garotos para o dormit�rio. Ele se sentia incomodado pelo fato de estar atrapalhando a vida de Blaine com os seus problemas.

"B., voc� n�o precisa fazer isso"

"Isso o qu�?" perguntou Blaine, enquanto colocava mais um filme para assistir em seu laptop.

"Isso o que voc� est� fazendo h� dias" disse Kurt, levantando-se e segurando a m�o de Blaine, evitando que ele apertasse o "play" do filme. "Aquilo j� passou. Voc� n�o precisa ficar comigo o tempo todo. Eu estou bem. V� em suas festas, saia para se divertir"

Blaine olhou para ele sem entender. "Voc� j� parou para pensar que eu posso estar fazendo isso porque gosto? Porque gosto de ficar com voc�... assistindo a filmes, conversando?"

Kurt ficou sem ter o que dizer e respirou fundo, soltando a m�o de Blaine. "Eu... eu pensei..."

"... pois voc� pensou errado" disse Blaine, desistindo de assistir ao filme e sentando-se em sua cama, com as pernas cruzadas.

"K., eu fa�o muita besteira, voc� sabe. E, �s vezes, quando eu estou aqui com voc�... eu esque�o disso. Voc� faz com que eu veja que fazer coisas simples como assistir a um filme ou conversar, podem ser muito melhores do que qualquer festa que esteja acontecendo por a�" confessou Blaine, sorrindo timidamente.

"Eu adoro isso aqui, B. Desculpa se o entendi errado"

"N�o se preocupe. Voc� pensou de acordo com as minhas atitudes... de quando voc� me conheceu"

"B., eu sempre te disse que nunca iria julgar os seus atos. E eu juro que n�o estou fazendo isso agora. Mas eu queria apenas que voc� soubesse... que voc� � muito mais do que isso... eu sei que n�o tenho nenhuma experi�ncia com garotos, mas eu sei que isso... sair com garotos sem que isso seja importante... n�o faz bem a voc�. Na verdade, n�o faz bem a ningu�m"

"Eu sei" concordou Blaine, de cabe�a baixa. "Eu sei, K."

Havia chegado o momento, pensou Blaine. Olhando para Kurt, com seu olhar de plena preocupa��o e compreens�o, fez com que ele percebesse que se havia uma pessoa com quem ele poderia conversar, que poderia ajud�-lo, era o seu amigo Kurt. Ele vinha guardando esta hist�ria a tanto tempo que estava come�ando a sufoc�-lo.

Blaine levantou-se, foi em dire��o � cama de Kurt e sentou-se a seu lado.

"K..." Blaine come�ou a dizer, olhando para o lado, sem encarar Kurt. "Tem algo que voc� precisa saber. Sobre uma coisa que aconteceu comigo no passado. E isso far� voc� entender porque fiquei t�o apavorado com o que aconteceu com voc� �quela noite"

Kurt o encarou com aten��o, sentindo que algo muito importante estava para acontecer. Para dar coragem a Blaine, Kurt segurou as m�os de Blaine.

"Voc� sabe que eu estudava em uma escola particular, certo?" perguntou Blaine e Kurt concordou com a cabe�a. "O que voc� n�o sabe � que antes... eu estudava em um outro col�gio"

"Neste col�gio..." continuou "quando eu assumi que era gay... as pessoas fingiram n�o se importar, o que me surpreendeu muito. Eu estava feliz, mesmo sendo o �nico gay do meu col�gio, pois eu sentia que podia ser eu mesmo, sem mentiras, entende?"

Blaine deu uma pausa, fechou os olhos e respirou fundo "ent�o um dia eu estava saindo do col�gio quando uns tr�s caras se aproximaram de mim. Eles j� eram do 3� ano e come�aram a me chamar de v�rios nomes ruins... mas eles n�o pararam nisso. Eles me empurravam, me chutavam e foram me levando at� um beco que havia na redondeza"

Blaine estava ofegante e olhava para o ch�o, com olhos tristes "quando chegamos l�... eles recome�aram os insultos e diziam coisas..." e parou de falar, sem for�as.

"Que coisas?" perguntou Kurt, preocupado e com medo do que viria a seguir.

"Perguntavam se eu j� havia experimentado... se eu j� havia dormido com algu�m do col�gio... a� o outro dizia que tinha certeza que n�o, que eu tinha cara de que ainda era virgem... e que eles iriam... resolver isso para mim..."

Blaine j� estava chorando neste momento e Kurt tentava se segurar ao m�ximo. Ele n�o queria mais ouvir aquilo... isso o estava matando.

"ent�o eles... me seguraram... e come�aram a tirar minhas cal�as enquanto o outro..."

"Oh meu Deus" Kurt soltou, agora j� incapaz de segurar as suas pr�prias l�grimas. "Eles... eles abusaram de voc�"

Blaine solu�ava "Eu... eu nunca tinha nem beijado outro garoto antes... eu, �s vezes eu ainda sinto tudo aquilo... eu n�o consigo dormir em paz durante uma noite inteira porque eu lembro... eu lembro..."

Kurt o abra�ou forte, e Blaine encostou seu rosto no ombro de Kurt, chorando muito. Ele n�o tinha tido a sua sorte, Kurt pensava. Ele n�o tinha ningu�m l� por ele. Blaine chorava compulsivamente, molhando a camisa de Kurt com as suas l�grimas.

"Voc�... voc� n�o contou a seus pais? N�o falou para ningu�m?" perguntou Kurt.

"N�o... eu tinha e ainda tenho muita vergonha, Kurt. Eu sei que deveria ter contado, mas eu n�o conseguia... voc� tem que me entender..." disse, pegando f�lego "depois eu inventei uma hist�ria a meu pai, de que precisava sair do col�gio porque estavam me tratando mal por ser gay... mas nunca consegui dizer a verdade"

Kurt concordou e afastou o seu rosto, limpando com as m�os as l�grimas que caiam no rosto de Blaine.

"Voc� � a primeira pessoa para quem eu contei isso"

"… por isso, n�o �?" perguntou Kurt "� por isso que voc� age desse jeito? Como se ter rela��es com outros garotos n�o importasse. Voc� n�o consegue confiar nas pessoas..."

Blaine n�o respondeu, mas sabia que era verdade. Agora que ele havia contado, era como se tudo estivesse acontecendo de novo, e mais real do que nunca. Ele tremia e n�o sabia o que fazer.

"B., tem algo que eu possa fazer por voc�?"

"N�o, K." suspirou Blaine "Voc� j� fez muito" disse, tentando sorrir, mas sem sucesso.

"B... eu..." Kurt queria dizer mais alguma coisa para ajudar o amigo, mas n�o conseguia reunir for�as para isso. Qualquer coisa que ele dissesse e iria se desfazer em l�grimas.

"Eu acho que... preciso dormir" disse Blaine, abruptamente, e dirigiu-se � sua cama. "Me desculpa K. Eu sei que n�o deveria ter envolvido voc� nisso, mas eu precisava... dizer, entende?"

"Claro que sim, B. Eu estou aqui" disse Kurt, vendo-o se afastar.

Kurt observou Blaine deitar-se em sua cama, em sil�ncio, e deitou-se tamb�m. Ele virou para o outro lado e deixou as l�grimas escorrerem sem que o seu amigo as visse. Pensar no que aconteceu a Blaine fazia com que cada m�sculo de seu corpo doesse. Ele n�o merecia aquilo.

No meio da noite, Kurt ouviu um barulho e percebeu que era o amigo chorando baixinho. Kurt se levantou e foi at� a cama de Blaine. Ele puxou as cobertas e deitou-se ao seu lado, abra�ando-o.

"Durma hoje sem preocupa��es, B. Estarei aqui ao seu lado a noite inteira" disse, dando um beijo em seu rosto.

Blaine n�o disse nada, mas fechou os olhos e tentou dormir. Depois disso, a �nica coisa que se lembra � de acordar no dia seguinte com a luz do sol iluminando o quarto e Kurt ainda abra�ando-o a seu lado. Ele havia dormido em paz a noite inteira. Ele sentia a respira��o de Kurt em sua nuca. Ele fechou os olhos novamente, intoxicado pelo cheiro de Kurt. As m�os dele estavam entrela�adas nas suas e seus corpos estavam grudados. Blaine come�ou a sentir algo estranho dentro de si. Seu cora��o estava a mil por hora. "N�o... n�o Blaine. Pare." pensava Blaine, tentando se controlar "voc� n�o pode sentir essas coisas. N�o pelo Kurt".

Blaine se levantou, assustando Kurt, que acordou sem entender o que estava acontecendo.

"Desculpa se te acordei, K" disse Blaine, indo em dire��o ao banheiro. Kurt estava cansado, ent�o apenas virou-se para o outro lado e continuou a dormir.