Sentei-me na beira da cama a olhar para a parede. Branca mas manchada com demasiadas fotografias do passado, recorda��es long�nquas tingiam a pureza da parede. Olhar, s� olhar fazia os meus olhos arderem, come�arem a inundar-se com a for�a de mil oceanos por chorar, com a raiva da inunda��o que era perder, com a tempestade que era o tumulto em mim.
Levantei-me.
Passei os dedos pelas fotos, fechei os olhos e tentei sentir a cara dele, ouvir o riso dele, cheirar o perfume dele, t�-lo comigo de novo. Mas n�o senti nada, a n�o ser a frieza e aspereza do papel. Da realidade. N�o havia mais David. S� o passado, s� as mem�rias.
Mais l�grimas. Mais dor. Mais raiva. Mais f�ria. Mais desespero. Mais e mais e mais e mais e mais.
At� rebentar. Arranquei as fotos enquanto mordia o l�bio at� sangrar, rasguei-as at� se tornarem t�o irreconhec�veis quanto a minha vida, destrui-as. Berrei at� estar rouco, queria expurgar-me da dor.
Mas nada parecia resultar. Ele mantinha-se em mim, e crescia, parecia alimentar-se do meu desespero at� ao ponto de me esmagar.
Como sempre fizera.
A liberdade da outra noite parecia agora assustadora, durante os �ltimos tr�s anos fora Kurt, o namorado do David e agora?
Agora...
Kurt.
S� Kurt.
Um Kurt que j� n�o sabia ser, perdera-me em mim mesmo.
Precisava de sair daquelas paredes sentia-me claustrof�bico nada fazia sentido em mim. Nada, absolutamente nada.
Sa� de casa num impulso incontrol�vel, e fugi. Precisava de fugir de mim mesmo e foi a� que tropecei no mais encantador par de olhos que algumas vez vira.
"Blaine" apresentou-se sorrindo.